WTM Latin America debate empregabilidade e diversidade

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Mariana Aldrigui, Clóvis Casemiro, Ricardo Gomes e Gustavo Pinto apontaram o que é essencial para o turismo representar a diversidade da população brasileira em seus quadros

POR ZAQUEU RODRIGUES

Os caminhos para o turismo representar de fato a diversidade que constitui a população brasileira pautaram, neste primeiro dia de WTM Latin America, o painel Empregabilidade no turismo atualmente (e que seja diverso!). A conversa reuniu a professora e gerente de pesquisa inteligência da Embratur, Mariana Aldrigui, o coordenador da IGLTA, Clóvis Casemiro, o presidente da Câmara Brasileira de Comércio e Turismo LGBT do Brasil, Ricardo Gomes, e o presidente do Instituto Vivejar, Gustavo Pinto.

Os especialistas apontam que o setor dá os primeiros passos nessa jornada. “Uma das coisas que eu vejo é que temos um grande gargalo na empregabilidade, principalmente na empregabilidade LGBT no trade turístico. Todos mundo vem à câmara, IGLTA, WTM e todos os eventos querendo promover o seu negócio e vender mais. Isso está certíssimo, pois é parte do nosso nosso trabalho fomentar os negócios. Mas, fomentar os negócios sem ter a comunidade representada de fato no seu quadro funcional não é bacana, não está bonito…Aliás, está muito feio”, alertou Ricardo Gomes.

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Ele destacou que o turismo é um setor que, historicamente, emprega a comunidade LGBT, e defende que é essencial avançar nesse quesito. “Dentro do hotel, da companhia aérea, da pousada, da agência, da operadora, seja qual for a empresa do trade turístico, há representação de negros, mulheres, quilombolas, indígenas e pessoas com deficiência? Nós podemos e devemos promover o turismo LGBT, que, segundo a Organização Mundial do Turismo, é incrível em termos de retorno; mas temos que pensar também sobre o que estamos devolvendo para essa comunidade?”

Gomes orienta que todas as empresas que trabalham ou desejam trabalhar com o turismo LGBT olhem para dentro da própria cada para avalisar o quanto a diversidade brasileira está representada nela de fato. E avisa: “Já está provado que quem trabalha com diversidade e inclusão no seu quadro interno vende mais, vende melhor e oferecem produtos mais assertivos. O grande gargalo é a gente convencer o trade. Vamos juntos com a Embratur e com as entidades trazer essa demanda para os empresários e mostrar a importância que é ter a população LGBT inserida no seu quadro funcional – a lésbica, o gay afeminado, a travesti, a mulher trans, cadeirante, a mulher negra… Essas pessoas existem e precisam estar nos quadros funcionais”.

A gerente de pesquisa e inteligência da Embratur, Mariana Aldrigui, pontua que é essencial que todos coloquem os pés no chão e possam olhar com mais carinho para os profissionais do setor de turismo. “Será que a gente não está exigindo demais não só para salário de menos, mas para tarefas que não vão demandar as competências que a gente exige atualmente. É parte da responsabilidade das empresas prever a qualificação. Como professora, uma coisa que me deixa muito triste é ver o aluno estudando à noite, trabalhando em um subemprego, tentanto fazer o curso de idiomas pelo celular, e gastando um dinheiro que ele não tem para ter uma bolsa de estágio no turismo de 6 horas para ganhar 600 reais ao mês – menos da metade de um salário mínimo. Há uma necessidade coletiva empresarial de rever o salário e as competências para a gente chegar de fato na seleção dessa diversidade”.

Já o presidente do Instituto Vivejar, Gustavo Pinto, disse que, ao falar de inclusão e diversidade, também se fala sobre empregabilidade dentro do turismo. “Muitas vezes, o pequeno empresário, que representa 90% do mercado de viagens e turismo, se sente paralisado, sem saber como tomar responsabilidade para promover uma mudança de fato. A primeira coisa que a gente precisa fazer é entender, dentro do tema que estamos abordando, qual é o cenário da minha empresa hoje. É importante eu ver quantas pessoas da minha equipe são mulheres, LGBTQIAPN+, negros… e o que eu posso fazer para mudar isso. O importante é assumir a responsabilidade pela mudança”, ensinou o especialista, que orienta a criação de pequenas metas para aumentar a representatividade.

No caso de profissionais autônomos, como agentes de viagens que não possuem funcionários, Mariana Aldrigui orienta a buscar fornecedores diversos. “Ou, por exemplo, listar opções de produtos que complementem a experiência de viagem do cliente para que ele tenha contato com mais diversidade. Isso não vai mudar amanhã; é aos poucos. Aldrigui citou o exemplo da Magazine Luiza, que fez processos seletivos específicos durante dois anos para ampliar a diversidade em seu quadro de profissionais”.

COMO MELHORAR

Os palestrantes iluminaram os caminhos para que o turismo amplie a sua representavidade. Gustavo Pinto destacou que é fundamental diversidade as vozes do setor. ‘O nosso desafio hoje é dar voz aos profissionais do turismo negros, LGBTQIAPN+, indígenas, quilombolas, mulheres… Assim, e ouvindo-os, vamos conseguir identificar profissionais de muita qualidade e avançar’.

Clóvis Casemiro destacou que o fato de a WTM Latin America dedicar um painel sobre o tema pelo segundo ano consecutivo representa um passo adiante nessa caminhada. ‘Só de estarmos aqui conversando já estamos trazendo cada vez mais essa realidade para dentro da indústria do turismo brasileiro. Nós temos que nos olhar. Há tanta diversidade de profissionais motivados para trabalhar. Eu, como gay, eu quero ver um garçom gay, um recepcionista gay…  A Hilton, recentemente, foi entender como seus funcionários e funcionárias trans estavam se sentindo na empresa. É muito importante que as empresas busquem isso. Há pouco tempo, aqui no Brasil, a Accor também fez uma seleção para pessoas trans. No Brasil, o turismo ainda é muito machista’.

Mariana Aldrigui ressaltou que é importante se inspirar nas gerações mais jovens, que manifestam as suas indignações e não se calam. ‘Não precisamos chegar ao limite do cancelamento, mas apontar o que pode ser feito para melhorar. O difícil é que a gente ainda está muito silencioso em nossas vidas, nas empresas e no comportamento social’.

Para Ricardo Gomes, todos devem fazer a lição de casa. ‘Temos que fazer um exercício diário e contínuo, pois é difícil mesmo. Isso ainda está muito fraco no turismo. A gente precisa resolver os problemas sérios, que são das pessoas que mais são assassinadas e menos empregadas, e que conseguem menos empreender nesse Brasil, que é a população trans. Temos que fazer um esforço para buscar o equilíbrio dessa representatividade, principalmente em funções de lideranças’.

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